Shirley de Souza Gomes Carreira-UNIGRANRIO
Mestre em Lingüística Aplicada- UFRJ
Doutora em Literatura Comparada-UFRJ
Coordenadora de Língua Inglesa da UNIGRANRIO
A metanarrativa é uma forma textual de autoconsciência do processo do narrar que
revela a ficção como artefato, como um construto do autor. O texto assim construído
fornece em si mesmo um comentário acerca do seu próprio status como ficção e como linguagem e de seus
próprios processos de produção e recepção, constituindo o que Hutcheon[1]
chama de narrativa narcísica. O
princípio da metanarrativa é, portanto, a dialética do olhar, que se direciona tanto
para o universo ficcional quanto para fora dele, construindo e desnudando simultaneamente
a ficção.
A voz que, autoconscientemente, comenta os mecanismos através dos quais se
constrói a ficção é o elemento mediador entre dois mundos ontologicamente
diferenciados: o mundo ficcional, em que as personagens transitam, e o mundo do leitor.
Por ter trânsito livre entre o real e o imaginário, ela invade o mundo aparentemente
autônomo da estória, estabelecendo relações dialógicas constantes, que conduzem o
leitor a perceber a obra não como produto mimético, mas como o resultado da
interpretação dos discursos do real.
A proposta do presente trabalho é tecer uma reflexão sobre a metanarrativa em Amar, verbo intransitivo[2], de Mário de Andrade,
a fim de mostrar que, enquanto processo, ela não tem a finalidade última de separar a
ficção da realidade e sim de suscitar questionamentos que levem o leitor a perceber
criticamente que a busca da identidade estética é análoga à busca da identidade
social. Para tanto, há que observar como se estabelece a tensão interna do romance, o
papel da intertextualidade e da recepção, a questão da referência, a fim de perceber
como a autoconsciência narrativa vem, em última instância, despertar a autoconsciência
crítica.
Mário de Andrade defendeu, como uma das bandeiras do movimento que ele mesmo
chamou de Desvario, a liberdade de pesquisa
estética e pode-se observar que, em AVI, a
ficção assume características experimentalistas.
O modernismo na obra de Mário de Andrade há que ser analisado não ao encontro do conceito de modernismo ocidental, mas
também em relação ao seu caráter peculiar de rebeldia contra o parnasianismo, contra
concepções estéticas refletoras de uma linguagem de dominação e poder.
A mudança dos meios de expressão proposta pelo modernismo corresponde à
maturação de uma crise mais geral, envolvendo toda a estrutura sócio-econômica do
país, que vai se manifestar, em termos artísticos, na busca de uma verdadeira identidade
cultural, dando continuidade a um processo já iniciado no século XVIII.
O experimentalismo emergente em AVI
contrapõe a estética naturalista- com todo o seu determinismo, sua visão do homem como
produto das leis físicas e químicas, da hereditariedade e do meio social e a
estética modernista voltada para o
relativismo, o subjetivismo, a ruptura das normas e a busca de um discurso próprio.
O modernismo no Brasil corresponde a um momento da história estética ocidental,
mas, sobretudo, ao despertar da consciência artística brasileira.
Há que se refletir, no entanto, sobre o contraste entre a proposta modernista e a
concretização dessa proposta. Ao lutar contra as tendências estéticas importadas,
conseqüência de uma postura eurocêntrica, o modernismo brasileiro prega uma arte
voltada para as suas raízes, uma linguagem do povo para o povo; a negação da ótica
burguesa e seus valores de empréstimo.
Se de fato promoveu-se a ruptura, uma antropofagia no sentido do corte de
excedentes, é bem verdade que o objetivo maior, o da comunicação de massa, não se
concretizou. O impulso ideológico que foi a mola propulsora do modernismo no Brasil, isto
é, o desejo de desafiar estruturas institucionais da sociedade burguesa- que, segundo o
que se considera normalmente, são reforçadas pelo idealismo despertando os
leitores para as implicações políticas das práticas literárias consagradas,
reduziu-se a uma prática de teor inacessível ao leitor comum, condicionado às
convenções do realismo romanesco.
A linguagem da ruptura é a linguagem que burla a gramática, que cria neologismos,
que imita a oralidade, mas, ao mesmo tempo, é a linguagem que constrói uma ficção que,
ao revelar-se em seus processos, já não se propõe a ser mimese do real, pretendendo
que, ao ser aceita como inverdade, acabe tornando-se mais importante que a suposta verdade
do mundo quotidiano[3].
Quanto a esse aspecto, AVI não atingiu o seu
objetivo de aceitação popular e, mais tarde, Mário de Andrade veio a fazer uma
reflexão sobre o movimento e sua obra,
admitindo que, na realidade, a literatura modernista tornou-se uma literatura da elite.
A fortuna do texto literário está ligada a uma série de fatores,
dentre eles a referência. Atualmente, tem-se questionado o que constitui a natureza da
referência na ficção, de que maneira a linguagem se prende à realidade. Se partirmos
do princípio de que referência não é correspondência chegaremos à conclusão de que
nenhuma referência lingüística é totalmente direta, necessitando de mediação. Se
aceitarmos a ficção não como mimese, mas como interpretação do real teremos como
referente a instância contextual da criação da obra. Sob esse ponto de vista, a
antinomia ficção-realidade terá como mediação o dado histórico, do qual a narrativa
é expressão e interpretação.
A narrativa em AVI é narcísica em
todos os sentidos. É expressão do enamorar-se do romance por si mesmo
enquanto criação, buscando constantemente seus próprios traços no espelho;
é expressão da circunstância histórico-social, da intensa busca de uma identidade
nacional; é expressão do desafio do artista, que pratica o desvario sem se preocupar com
a crítica.
Há uma simetria entre as tensões que operam no romance e as tensões do contexto
histórico-social. A tensão interna da obra, que mesmo revelando seus processos não quer
perder o seu impacto como produto, reflete a busca de identidade do romance, da síntese
da sua função estética e sociológica. E é esse conflito que exprime a tensão externa
do romance, do indivíduo que, por fazer parte de uma sociedade de terceiro mundo, vive o
dilema de tentar conciliar a indiscutível atração pelos padrões da cultura européia e
a necessidade de se sentir integralmente brasileiro, de assumir o modus vivendi nativo.
A metanarrativa manifesta uma preocupação em demonstrar a presença estética do
autor implícito, chamando a atenção do leitor para o processo do narrar e convidando-o
a testemunhar auto-análise da obra que ele, autor-narrador, invade trazendo o leitor para
dentro do universo ficcional.
A voz que conta a estória nem sempre é a voz que comenta o código. Às vezes, as
vozes dialogam entre si, em outros momentos duelam e, ocasionalmente, se sobrepõem
harmoniosamente, confundindo o leitor.
Em AVI, pode-se detectar a presença de
dois narradores distintos. O narrador que opera ao nível do relato é detentor de uma
onisciência neutra, isto é, manifesta-se em terceira pessoa, alternando as
intervenções diretas das personagens as
cenas com descrições e explicações
elucidativas[4].
Mamãe! Me largue
,Carlos! Me laargue.
Sacudida
revirada, tiririca, socos.
...Lagarto,
lagartixa
Isso sim é que pode
ser.
Empurrada sacudida.
Mamãe...
A carne rija dele recebia
os socos, deliciada. Só protegia a cara erguendo-a para o alto, de lado. Podia bater até
no estômago se quisesse! Já praticava boxe. (p.11)
Do ponto de vista do discurso, pode-se observar um narrador de onisciência
editorial[5]
sempre que este se manifesta através do eu ou nós,
apresentando-se como narrador intruso, que não só invade a mente das personagens, como
também manifesta seus próprios pensamentos e opiniões, que podem ou não estar
explicitamente relacionados à estória. É
desse segundo tipo de narrador que a metanarrativa se serve para discutir o código,
argumentar com o leitor, revelar a obra como artefato.
A par das divergências acerca da terminologia, há uma tendência a identificar o
narrador de onisciência editorial com o autor implícito, ou o second-self, e faz-se necessário, então, deixar
claro que mesmo que o autor implícito expresse as intenções e opiniões do romancista,
ele é um eu distinto deste. A voz que diz não ver razão para ser
chamado de vaidoso por imaginar que seu livro tem cinqüenta leitores (p.21) é a
voz do autor implícito, não a voz do romancista, por mais que se afirme como tal.
Ninguém
duvide: esse um que lê com mais compreensão e entusiasmo
escrito é autor dele. (p.21)
O autor implícito surge como figura mediadora entre o universo ficcional e o
leitor. Indubitavelmente, é o romancista que empresta a voz ao autor implícito ao
admitir que cada leitor constrói a sua Elza da maneira que quiser, que tampouco é sua
intenção impor a sua Elza; mas ao retratá-la, deixa claro nas entrelinhas
que a liberdade do leitor é limitada pelo próprio texto, para que ele se concretize;
para que a interpretação do leitor tenha ver com esse texto e não com algum outro.
Por mais que cada leitor imagine a sua Elza, essa imagem há de se desfazer ante a
que lhe é apresentada; a que conta no curso do relato. É sugestivo que obras
contemporâneas, ditas pós-modernas, dispensem ao texto tratamento idêntico. Um exemplo
bastante claro disso pode ser observado em A mulher do tenente francês, de John Fowles. O autor
oferece, via narrador, dois finais e é dada ao leitor a oportunidade de escolha, mas o
que prevalece é o que se apresenta por
último, pois o leitor não escapa à tirania do último capítulo.
Toda essa argumentação do autor implícito funciona como uma paródia dos
métodos da criação romanesca e o que se apresenta, na verdade, é a técnica do
espelho: o romancista que escreve sobre escrever a escritura- a mise en abyme.[6]
A intrusão do narrador/autor implícito em AVI
pretende estabelecer distinções ontológicas entre o real e o imaginário, ainda que
não intensamente marcadas. Não é, evidentemente, uma intrusão no intuito de autenticar
a ficção, de servir de ponte para a concretização do mundo ficcional, pois as
convenções que mascaram as distinções entre os dois mundos são reveladas.
A linguagem que aparenta imitar a linguagem do quotidiano parodia o real para
repensá-lo. Não há ruptura radical com as tradições literárias anteriores, pois
essas constituem o background contra o qual as
inovações textuais são construídas e compreendidas. O idílio, em si mesmo, é
recriado para ser repensado. A paródia de um modelo explicita as relações desse modelo
com o contexto histórico original, através da sua confrontação com o contexto
histórico contemporâneo, cujas normas sociais e literárias estão em mudança. O
idílio de Fräulein e Carlos é, portanto, o idílio da modernidade.
O narrador que invade o relato estabelece um diálogo com o leitor, uma relação
de cumplicidade, dirigindo-se a ele, convocando-o a participar da recontextualização/
reconstrução da escritura no momento da recepção.
Ahh...
ia me esquecendo de avisar que esse idílio é
imitado do francês de
Bernardin de Saint-Pierre. (p.81)
(Aqui o leitor começa a ler este
fim de capítulo do lugar em que
a frase do
etc principia. E assim continuará repetindo o cânone infinito até que se
convença do que afirmo. Si não se convencer,
ao menos convenha comigo
que todos esses europeus foram um grandessíssimos canalhões) (p.29)
Ora essa! Não me amolem
com histórias de concordância psicológica. Vocês
se esquecem do deus encarcerado? (p.99)
Mas como nos será impossível dormir,
ao leitor e a mim, ambos naquela
torcida pelo triunfo de Carlos, vamos gastar este resto de noite resolvendo uma
questão pançuda. (p.90)
Embora seja o artifício mais marcante da metanarrativa, a voz autorizada não
constitui por si só o processo de desconstrução da
ficção. A ela somam-se recursos outros que irão desvendar
os mecanismos do fazer narrativo, merecedores, portanto, de análise detalhada, uma vez
que contribuem para a revelação narcísica do texto.
Se a nossa compreensão do mundo é mediada pela linguagem, a ficção, um mundo
construído inteiramente de linguagem, torna-se modelo facilitador do aprendizado da
própria construção da realidade[7]. Como indivíduos todos nós representamos
papéis num determinado contexto social e, assim sendo, funcionamos como parte de um todo. De uma certa
maneira, a análise das personagens funciona como um modelo para a compreensão da
construção da subjetividade do mundo exterior à ficção.
Ao analisar a ficção, busca-se, de fato, o que confere ao romance a sua
identidade. Não estaria implícita na busca da identidade ficcional a busca da identidade
social?
AVI, embora não possa assumir os
atributos que conferem a uma obra literária o rótulo de metaficção, adota alguns dos
seus procedimentos e através deles penetra fundo na estrutura familiar da burguesia
paulistana, sua moral e seus preconceitos, ao mesmo tempo em que aborda, em várias
passagens, os sonhos e a adaptação dos imigrantes na agitada Paulicéia. A ficção que
se explica, as personagens que se contam, traduzem o contexto social e a fragmentação do
sujeito que une os seus pedaços sob forte couraça protetora na busca da identidade e da
aceitação.
O autor implícito, que afirma estar falando brasileiro, interrompendo
o relato, o faz ao referir-se à ida das crianças da família à matinê do
Royal. É Mário de Andrade quem lhe empresta a voz da ironia, que, na aparente
simplicidade de quem explica o porquê da linguagem, denuncia toda uma situação de
domínio sócio-cultural importado: a adoção voluntária de modelos estrangeiros como
reflexo da busca de uma identidade social. Ao mesmo tempo, revela o relativismo dessa
postura, ao referir-se aos Souza Costa como família imóvel mas feliz.
A ótica burguesa dos Souza Costa, que vê nos hábitos importados a reafirmação
do seu status, não nega, no entanto, as suas
raízes em suas atitudes rotineiras. A imobilidade compraz; é necessária à manutenção
da felicidade.
É. Dona Laura comprazia com prazer o marido. Com prazer? Cansada. Entre
ambos se firmara tacitamente e bem cedo uma convenção honesta (...)
convenção honesta se quiserem...
Não seria
talvez a precisão do sossego ?
(p.18)
O pacto entre Souza Costa e Dona Laura, ignorância voluntária das mútuas
infidelidades, é fruto da busca de estabilidade, que pode não trazer satisfação
individual, mas permite o sossego, a reafirmação do status social, a manutenção dos valores de
aparência.
Então,
depois de mais uma olhadela para
ver se
todos estavam mesmo ali
bem garantidos, Dona Laura se lembrou
que era senhora de sociedade...
(p.137)
A imobilidade da família Souza Costa, numa interpretação ampla,
seria a metonímia da imobilidade intelectual e artística conseqüentes a uma
dependência cultural que impede o reconhecimento de uma realidade brasileira. No plano do
relato, essa dependência se evidencia através da ótica de Fräulein, que utiliza o
adjetivo brasileiro com sentido pejorativo, que divide os seres entre
superiores e inferiores. Para ela, é impossível não detectar o
ridículo de uma gente que quer ser o que não é. Para o leitor é delicioso compartilhar
da ironia do autor, que, ao estabelecer contrastes, revela quão genuíno e típico é o
cotidiano de nossa gente.
(...) e Fräulein, assim viajando de costas,
captou o olhar da outra. Ficou
envergonhada, aliás tudo a envergonhava naquela
viagem brasileira. (p.142)
A impagável viagem de trem é um dos mais bem trabalhados exemplos da ironia de
eventos[8],
assim como a cômica situação gerada pela insistência de Aldinha em fazer amizade com o
filho da norueguesa, preso à imobilidade da boa educação (p.142). Nessa
instância a ironia da situação é patente. De um lado a norueguesa, escandalizada com
os maus modos desses brasileiros, do outro os Souza Costa, satisfeitos
com o desprendimento da filha ao oferecer o sanduíche amassado ao menininho. A
ironia verbal do autor é expressa logo em seguida:
Não
há dúvida que lhes assustava muito o
recato essas simples aparências de
contágio com desconhecidos, mas
enfim a
estranha era visivelmente uma
senhora distinta.(p.146)
Após o espetáculo oferecido pela família Souza Costa aos passageiros
do trem, fica evidente o peso da ironia contida nos vocábulos recato,
contágio e distinta.
Desde a ascensão do romance, a ironia tem sido um dos recursos utilizados pelos
autores das narrativas autoconscientes, juntamente com as intromissões do narrador e as
apostrofações ao leitor. À metanarrativa importa imensamente a utilização da ironia,
seja sob a forma instrumental, seja sob a forma de observação[9],
uma vez que o aspecto mais importante da ironia reside no fato de que ele é a forma
do paradoxo, ou melhor, a análise da tese e da antítese[10]. Sob esse aspecto, o paradoxo da ironia está
associado ao paradoxo da metanarrativa e, evidentemente, da narrativa narcísica, que se
constrói e desconstrói sucessivamente.
Ao pretender explicitar as relações entre Fräulein e Tanaka, o narrador expressa
sua opinião, exclamando:
Em que companhia horrorosa a gente Souza Costa foi se meter! E ainda, após
fazer uma reflexão sobre a necessidade de mão-de-obra estrangeira, porque
brasileiro só serve para empregado público, conclui:
E assim aos poucos o Brasil fica pertencendo aos brasileiros, graças a Deus!
Dona Maria Wright Blavtsky, Dona Carlotinha
não-sei-que-lá Manolo. Quando
tem doença em casa, vem o Dr. Sarapião de Luca(...)
Brasil, ai Brasil! (p.97)
Nas narrativas narcísicas é comum a referência às personagens desobedientes,
com vida própria, que ultrapassam o eu da
pessoa empírica do autor. É assim que o autor implícito de AVI revela não ser Fräulein uma personagem por
ele inventada.
Um
dia era uma quarta-feira. Fräulein apareceu diante
de mim e se contou. O que
disse aqui está com poucas vírgulas, vernaculização acomodatícia
e ortografia. Os personagens,
é possível que
uma disposição particular e momentânea do meu espírito
tenha aceitado as somas por eles
apresentadas, essa toda a minha falta. Porém
asseguro serem criaturas já feitas e que se moveram
sem mim. São os personagens
que escolhem seus autores e não estes que constróem as
suas heroínas. Virgulam-nas
apenas, pra que os homens possam
ter delas conhecimento suficiente. (p.60-61)
Ao mesmo tempo que , explicitando os processos da ficção, revela a obra como
artefato, o autor implícito demonstra que, embora não seja um indivíduo de fato, a
personagem é conseqüência da filtragem das observações do real. A sua existência no
romance, no entanto, é fruto do signo, porque a personagem nasce com a palavra. Na
concretização da língua está o poder da vida e da morte. Elza se conta ao autor
implícito, mas só existe no plano da ficção através da escritura. As personagens
são, naturalmente, signos literários em uma página antes de qualquer coisa[11].
A personagem que se conta também faz ficção sobre si mesma e, neste nível,
metadiegético, a autoconsciência narrativa também opera. É a partir do
relato da personagem que o escolheu que o autor implícito/narrador nos
oferece a sua versão da estória. O homem-do-sonho que nela habita, enclausurado pelo
homem-da-vida, sua persona, sua máscara social,
reconhece que a ficção que ela cria é uma condição necessária e deixa-se ficar,
indolente, limitando-se às escapadelas ocasionais, gemidos de um deus paciente
encarcerado (p.27), que lhe permite a eventual distração do homem-da-vida.
Fräulein achava
desnecessária tanta mentirada, e
bobo tanto preconceito. De primeira isso irritava
bastante o deus encarcerado e
era um berreiro de atordoar dentro do corpo dela. Achava que o ideal do homem era repetir aquela frase que Schiller botara
na boca de Joana DArc. Não
posso aparecer
sem minha bandeira, ser
sincera(...) Fräulein foi
obrigada a guardar a bandeira.
E não sei se o deus encarcerado acabou se adaptando
também, sei é que não faz mais chinfrim.
(p.92)
Na verdade, é o homem-da-vida que busca a adaptação, enquanto o homem-do-sonho
espera o momento de concretizar-se.
Aqui Fräulein repara que aos poucos o homem-do-sonho
se substituíra de novo ao homem-da-vida. É porque este aparece unicamente quando trata-se de viver mover agir. O
outro é interior,
eu já
falei.(p.34)
Ao afirmar que somos misturas incompletas, o autor implícito revela o
estado de confusão interior que se instala em Fräulein, porque se há algo em que seus
habitantes interiores concordam é quanto à concepção do amor.
Amor
calmo, etc. Com a freqüência do ideal escrito
pelo deus encarcerado, com certeza discípulo de Hans Sachs, Fräulein pouco a pouco mecanizara a sua concepção pobre do amor. Ali o homem-da-vida e o homem-do-sonho vinham se confundir na pregação de uma verdade só...(p.104)
Em AVI, a repetição funciona de maneira
análoga aos leitmotiv de Wagner em sua
tetralogia, onde os temas se repetem sempre que a personagem está em evidência. A cena
do amor ideal repete-se por todo o texto, associada ao homem-do-sonho. A Fräulein do
início é Brunhilde, que, exilada do seu habitat
natural, torna-se vulnerável e, por isso, recorre à couraça do homem-da-vida, o
círculo de fogo de Loge, para não tornar-se presa de qualquer um. Mas Fräulein não
descobre logo que Carlos é um forte, um jovem Siegfried,
machucado, capaz de atravessar o anel de Loge, o encantamento do fogo, e
depertá-la do seu sono.
Revelação!
Todos os instintos baixos dela, por que baixos!
Todos os instintos
altíssimos dela, guardados por horas
(...) por dias, meses,
surgiam somados
numa carreira de estouro que só a
exaustão pararia. E ele era mais forte, duma
força de pureza! Vencia.
(p.78)
Amar deixa de ser verbo intransitivo. A teoria que Elza ensinara aos alunos, que se
embrenhara no que ela desejava ser, desfaz-se. Brunhilde perde definitivamente a
imortalidade.
A Fräulein deste minuto é
uma mulher desfeita, uma Fräulein que
sofre
Fräulein sofre. E por que sofre, está além de
Fräulein, além de alemã: é um
pequenino ser humano.(p.70)
O autor implícito anuncia que com a partida de Fräulein o idílio se acaba e
sacramenta o anúncio com um fim. Daí por diante convida o leitor a
acompanhá-lo e testemunhar em Carlos o distanciamento e em Fräulein a retomada do sonho
(p.168). O leitmotiv se repete, mas de modo
diverso. Ela já experimentara a transitividade do verbo amar. No reencontro com Carlos,
ao final, o deus encarcerado solta um gemido que nem urro. Fräulein, porém, se vence com o raciocínio numa
espécie de felicidade; prefere a aceitação, a adaptação.
O
mundo é tal como é. A gente deve aceitar sem revolta. Carlos
casará
rico, Perfeitamente.(p182)
E a Fräulein que surgiu e se contou, insinuando-se professora de amor, desanda a
fazer ficção sobre si mesma, uma vez mais.
E
uma comoção materna se desencadeou no corpo
dela, nem via mais Carlos(...)
Ela era mãe de amor. (p.182)
Quem
impedirá a personagem-signo de se contar novamente?
A dualidade de Fräulein, longe de sugerir que a personagem não concorda
consigo mesma (p.60), revela a tendência natural e vital do ser humano a fazer
ficção sobre si mesmo e os outros. A ficção é o produto da capacidade interpretativa
do homem ante os elementos com os quais se relaciona. Fräulein é um complexo
e não um completo. Ao criar para si uma identidade fictícia, revela o
relativismo do seu eu exterior. Nas muitas expressões de si mesmo que o
indivíduo oferece ao mundo exterior há a revelação incontinenti de que de fato somos mais que um e
é essa multiplicidade de eus que propicia a ficção na arte e na vida.
Fräulein é uma identidade de Elza na sua busca de adaptação.
O dialogismo na obra literária dá-se em três níveis: no nível da relação
autor/narrador/leitor, típico da metanarrativa; no nível da relação
autor/narrador/personagem, típico da metaficção, e no nível da relação com outros
textos, a intertextualidade. O texto que se apropria de outros textos os recria de modo a
conferir a si próprio uma nova dimensão de significância.
A apropriação de discursos pode ser explícita ou implícita; pode ser de uma
obra, de um gênero etc. Um traço importante da intertextualidade é o fato de que os
discursos anteriores são sempre alterados e não meramente repetidos. O texto funciona
como ativador da memória do leitor, onde os textos anteriormente lidos, ou frames, estão armazenados. O diálogo, então,
dá-se entre o leitor e a sua memória de outros textos.
A intertextualidade pode ser de forma ou de conteúdo[12],
uma vez que a primeira restringe-se à repetição de expressões, enunciados, trechos de
outros textos, ou então, o estilo de determinado autor, enquanto que a última e, por motivos óbvios, a mais constante é mais ampla, podendo abranger qualquer tipo de
texto, e apresentando-se de maneira explícita ou implícita. A intertextualidade
implícita, por não ter indicação da fonte, requer do leitor os conhecimentos
necessários para recuperá-la, assim como para detectar a possível intenção do
produtor do texto ao retomar o que foi dito por outrem.
Em AVI, podem-se observar os dois tipos
de intertextualidade de conteúdo. A intertextualidade explícita aparece em diversas
instâncias, na maioria das vezes com a pretensa incumbência de explicar o processo
criativo. Ao comentar a criação
de Fräulein, por exemplo, o narrador recorre às teorias de Freud, cita o evolucionismo
de Darwin e mesmo O banquete, de Platão
(p.61-2), para tentar justificar a incompletude, a hesitação da personagem.
Não poupa, no entanto, o tom de ironia:
Porém
o que importa são as afirmações
daqueles alemães sapientíssimos,
aqui evocados para validar a minha
asserção e lhe dar a carranca científico-
experimental(...) uma personalidade concordante,
milagre! Pra criar
tais
milagres o romance psicológico
apareceu (...) Oh! positivistas da fantasia!
oh
ficções monótonas e resultados já sabidos!(p.62-3)
De igual modo, ele faz uso do ato falho, quando Fräulein e Carlos não
conseguem de modo algum lembrar-se do significado de geheimnis, simplesmente porque ele sintetiza o
momento do idílio vivido pelos dois: o segredo.
AVI
apresenta uma intertextualidade implícita em relação ao terceiro drama-lírico
Siegfried da
tetralogia que constitui O anel dos nibelungos,
de Wagner. A menos que o leitor conheça , ou se disponha a conhecer, a analogia feita
pelo autor entre Fräulein e Brunhilde, Carlos e Siegfried, não será possível recuperar
esse tipo de intertextualidade.
Affonso Romano SantAnna faz distinção entre a intertextualidade das
semelhanças e a intertextualidade das diferenças[13].
No primeiro caso manifesta-se adesão ao que é dito no texto original; no segundo,
representa-se o que foi dito para propor uma leitura diferente e/ou contrária. A repetição pura e simples, bem como a
paráfrase, pertencem ao primeiro tipo; já a paródia, a ironia, a concordância
parcial são exemplos do segundo tipo. A intertextualidade das diferenças é uma
constante em AVI.
Castro Alves cantava que na última contingência
da calamidade, quando a
queimada galopa destruindo matos, sacudindo as trombas curtas de fogo no
ar, a corça e o
tigre vão se unir na mesma rocha.
Não sei em que país do
mundo Castro Alves viu a Queimada dele...(...) Porém essa fauna pentaterrestre
não tem importância nenhuma para
esse idílio, pois não trata-se de corça
nem
de tigre, estou falando de Fräulein e
do criado japonês. (p.91)
Agora que as relações entre
os dois tigres foram esclarecidas, só me resta
aconselhar aos leitores o seguinte; A
gente não deve culpar nem Fräulein nem
o criado japonês(...) ali estão
unidos por causa da Queimada de Castro Alves.
Por causa das recordações, do
exílio e da esperança. (p.96)
Para alguns teóricos, um intertexto não é necessariamente o mesmo que um texto
paródico, uma vez que o locus da apropriação
está no leitor e não no autor[14] . No entanto, pode-se
observar que, ao tratar-se da intertextualidade de conteúdo, há sempre uma recriação pelo distanciamento
crítico. O texto original é reinterpretado a partir de uma nova leitura e a
reinterpretação constitui uma metanarrativa. Se esta nova leitura implica uma
distorção, irônica ou não, do texto original, então a releitura constitui uma
paródia.
Muitas vezes o outro do discurso é o próprio autor numa outra instância do seu
fazer literário e a isso dá-se o nome de intratextualidade. Em AVI, encontramos ecos do Mário de Andrade do Prefácio Interessantíssimo[15].
O narrador que explica a ficção repete o autor que um dia escreveu:
Quando
sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar tudo o que o inconsciente me
grita. Penso depois: não só para corrigir, como
para justificar o que escrevi.(p.11)
As frases que terminam abruptamente, como a esperar uma continuidade que não vem,
que pairam no ar, são como uma transposição para a prosa das considerações que ele
faz em PI acerca da harmonia poética.
A
palavra chama a atenção para o seu insulamento
e fica vibrando, a espera duma
frase que lhe faça adquirir
significado e QUE NÃO VEM(...). Assim: em
vez de
melodia (frase gramatical) temos acorde arejado,
harmonia.
Ao comentar a maneira latina de amar, usando Carlos como referente, o narrador de AVI divaga por teogonias novas:
Mas
agora se fala tanto nos sentimentos sequestrados... O subconsciente se presta
a essas teogonias novas. Fantasia? Ninguém o saberá jamais. Minha vingança é
que Freud não pode ter sensações de tantãs
no fundo do mato (...) Aliás nem
Fräulein. Por isso é que falando de Carlos
fui poeta, inventei. Falando agora
de Freud, de Fräulein, de Friedrich, pra usar
unicamente efes, endurece-me a pena
um decreto de ciência alemã.(p.154-5)
A passagem acima parece ser a concretização de citações do 5º item
da parte do PI que Mário relaciona para
ajuntar à teoria:
Entre
o artista plástico e o músico está o poeta, que se avizinha do artista
plástico com a sua produção consciente, enquanto atinge as possibilidades do
músico no fundo obscuro do inconsciente.
Dom
Lirismo, ao desembarcar do Eldorado do Inconsciente no cais da terra
Consciente, é inspecionado pela visita médica,
a Inteligência, que o limpa dos
macaquinhos e de toda e qualquer doença que
possa espalhar confusão, obscuridade na terrinha progressista. Dom Lirismo sofre mais uma
visita alfandegária, descoberta por Freud, que a denominou
Censura. Sou contrabandista!
O texto narcísico envolve um paradoxo na medida em que, ao revelar-se no nível do
processo criativo, autoconscientemente, apoia-se no receptor para que a dialética entre a
ficção e a realidade se concretize. Há dois focos principais na narrativa narcísica: o
primeiro está na sua estrutura; o segundo no papel do leitor.
Por algum tempo, predominou o imanentismo do texto, isto é, o isolamento do texto
e um conseqüente desprezo pelo contexto histórico concreto da obra literária, do seu
autor, das condições de produção e leitura. Atualmente, tem- se buscado a
recontextualização da obra literária; não, evidentemente, à moda das corrrentes
críticas historicistas, mas partindo do texto para relacioná-lo ao contexto
histórico-social.
Ao ler um texto, o leitor estabelece conexões implícitas, preenche lacunas, faz
deduções e comprova suposições e tudo isso significa o uso de um conhecimento tácito
do mundo em geral e das convenções literárias em particular. Partindo-se desse
princípio, a obra estaria cheia de
indeterminações, dependentes da interpretação do leitor.
Ao se ler literatura, no entanto, o processo não é idêntico. A obra literária
mais eficiente é aquela que leva o leitor a uma nova consciência crítica de seus
códigos e expectativas habituais. Assim como somos capazes de modificar o texto com as
nossas estratégias de leitura, ele também nos modifica, ao questionar nossas crenças e
convenções, através das quais o abordamos. Toda visão da leitura é levar-nos a
uma autoconsciência mais profunda, catalisar uma visão mais crítica de nossas próprias
identidades[16].
Evidentemente, diferentes leitores têm a liberdade de concretizar o texto de
maneiras diferentes e não se pode dizer que haja uma única interpretação
correta que esgota o seu potencial semântico, mas é necessário construir o
texto de modo a torná-lo coerente.
Embora haja uma certa rejeição por parte de alguns teóricos ao que Iser chama de
leitor implícito, não se pode deixar de observar que embora o autor não pense em um
determinado tipo de leitor, ainda que seja soberanamente indiferente a quem vai ler a sua
obra, na verdade, um determinado tipo de leitor já está implícito no próprio ato de
escrever, funcionando como uma estrutura interna do texto.
O que a metanarrativa faz é guiar o leitor através de uma sucessão de
indeterminações ao fim da qual ele terá reconstruído o texto segundo a intenção do
autor. É como se um quebra-cabeça já montado tivesse sido embaralhado novamente. A
consciência de que há uma regra de montagem é que nos leva a fazê-lo corretamente.
No jogo da metanarrativa, o autor constrói o universo ficcional, simultaneamente o
descontrói para provar que a ficção
é ilusão e nos convida a
reconstruí-lo, buscando no código que comenta o código a verdadeira intenção do
autor.
Nada impede que a decodificação seja feita de maneira diferente. Em AVI, a intertextualidade, por exemplo, tem o seu
significado na intenção do autor, mas um leitor que não o leitor implícito poderá
simplesmente fazer uma leitura óbvia do texto, que, por ser parcialmente decodificado,
será parcialmente absorvido.
Não seria possível passar por essas reflexões sem citar parte do PI, de Mário de Andrade:
Escritor
de nome disse dos meus amigos e de mim ou que
éramos gênios ou bestas (...) Canto de minha maneira. Que me importa se não me
entendem? A distância crítica entre o gênio e a besta está claramente associada ao
papel do leitor na reconstrução do texto.
Ao permitir a dialética entre o real e o imaginário, a metanarrativa desconstrói
o conceito de referencialidade. A ficção não é mimese do real, mas só se realiza
coerentemente porque o leitor transfere a referencialidade do seu mundo empírico para o
universo ficcional.
O autor implícito de AVI interrompe o
curso da estória para comunicar ao leitor que o que ali está em palavras não é algo
inventado, mas efetivamente um relato. O leitor, a par das impossibilidades típicas do
relato, como a onisciência e onipresença autoral, aceita a tarefa de contextualizar a
ficção e torná-la verossímil.
O que a metanarrativa parece tentar provar é o relativismo inerente a todas as
coisas. Ao expor as convenções literárias, ela nos mostra que as convenções do mundo
real são tão forjadas quanto as da ficção e, portanto, passíveis de mudança.
Na metanarrativa, a ficção não imita a vida, mas os processos da arte. Se
compreendemos que só conhecemos o passado do homem através dos seus textos, podemos
perceber que a própria história não é o registro transparente de nenhuma verdade
indiscutível, mas uma interpretação contextualizada dos acontecimentos.
Mais que uma estratégia modernista, ao estabelecer uma (con)fusão
espaço-temporal na ficção, deslocando seguidamente o leitor, a metanarrativa quer
provar que nenhum mundo ficcional pode ser totalmente autônomo. A sua construção
lingüística sempre evoca implicitamente os contextos da vida, os quais também são
lingüisticamente construídos.
Em AVI, os dois mundos o do
discurso e o do relato são freqüentemente confrontados, seja pelo autor
implícito/narrador, que invade o texto para repreender ou consolar as personagens, seja
pela personagem que invade o mundo do narrador. O confronto entre os dois mundos não só
parodia as relações entre o real e o imaginário, como também prova sintomaticamente
que o processo da criação literária é análogo ao processo de deslocamento relatado
por Freud (será que Mário se deu conta disso?). A escritura em si é um extenso lapso
lingüístico onde as demandas do eu tomam forma.
O modernismo veio ratificar um processo de auto-identificação que se instalou
paulatinamente no curso da nossa história literária, tomando força com o Romantismo. O
movimento foi uma resposta à questão da autodefinição nacional, à busca da
brasilidade e sua representação artística. Isso não significou o desprezo pela
contribuição estrangeira e sim a reivindicação de uma expressão artística própria,
ainda que fecundada pela herança cultural do ocidente.
Sob esse aspecto, AVI expressa os rumos
que nortearam o movimento. A metanarrativa é a ruptura da forma, na mesma medida em que o
idílio, por dessacralizar tabus e preconceitos, leva à ruptura temática. O
questionamento estético está simetricamente relacionado
ao questionamento do contexto social. A questão subjacente à metanarrativa
assume, assim, caráter ontológico. A crise de identidade de Fräulein é refletora da
crise de identidade artística que, por seu turno, reflete a crise de identidade social.
Toda obra literária que, de algum modo, aberta ou discretamente, desnuda o
processo de sua própria composição, o faz para não passar por verdade absoluta, para
que o leitor seja estimulado a refletir criticamente sobre a maneira parcial pela qual ela
foi construída, reconhecendo que o que foi dito no nível do enunciado poderia ter sido
formulado de maneira diferente.
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17 WHITE, Hayden. Tropics of discourse. Essays in cultural criticism.
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[1] HUTCHEON, L. Narcissistic Narrative. New York: Methuen,1985.
[2] ANDRADE, Mário de. Amar verbo intransitivo. São Paulo: Livraria Martins Editora,1978.
[3]
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[4]
FRIEDMAN,Norman. Point of view in fiction. In: STEVICK, P. The Theory of the Novel, 1967,
p.123.
[5] Op. Cited p.121
[6]
Narrativa em espelho, em que uma mesma imagem é reproduzida ad infinitum.
[7] WAUGH, P. Metafiction: the theory and practice of self-conscious fiction.London: Methuen, 1984, 2
[8] MUECKE, D. Irony and the Ironic. London: Methuen, 1986, 11
[9] idem 1986, 22-24
[10] SCHLEGEL, F. Lucinde and the Fragments, s.n.d.
[11] WAUGH, P. op. cit. p. 56.
[12] KOCH, I. & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1991, p.75
[13] SANTANNA, Affonso Romano. Paródia, paráfrase & cia. São Paulo: Ática, 1985.
[14] RIFFATERRE, M. Syllepsis. In: Critical Enquiry, 6, p.625-38, 1980.1980,626
[15] ANDRADE,Mário de. Prefácio interessantíssimo. In: Obras Completas. São Paulo: Livraria Martins Editora, 1974.
[16] EAGLETON, T. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo, Martins Fontes,1983, 84-5